quinta-feira, 11 de abril de 2013

Cai chuva do céu cinzento


Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.

Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.

Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não,
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.
                 
                         15-11-1930          Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa

E porque chove. Talvez os dias, nublados, nos limitem a esperança, se ao menos houvesse luar... saberíamos ter esperança.

Sem comentários: