sexta-feira, 16 de março de 2012

Lentidão...


Por vezes é-se alertada para a evidência de que a vida passa depressa demais.
Passará a vida depressa demais?
Depois dos verdes anos, a velocidade da passagem dos dias parece ser maior.
E no crepúsculo duma vida, desse lugar onde se vê, como que em fotogramas, toda uma existência, tudo parecerá ter sido tão veloz.
Entre a velocidade e a lentidão, prefere-se a lentidão (dos dias, ainda que vazios) sendo que isso não será visível nesses fotogramas de retrospectiva ulterior. Pudéssemos roubar a lentidão e usá-la como lente...
Nada será, porém, mais veloz que o presente.
Teremos pois a legitimidade de deixar que quase nadas preencham os dias, ao invés de os viver com intensidade desmesurada?
Viver dias, em que se é no mundo, apenas um na multidão, dias de banalidades, dias sem música, sem poesia, sem literatura, sem palavras, sem olhares, sem gestos que nos arrebatem. Dias em que também as noites são banais, e nem um mundo fora de nós, acessível nestes tempos de virtualidade desmedida, nos marca o tempo.
Bem se sabe que somos nós e a circunstância, e que a banalidade e os dias quase vazios fazem parte da vida. Sendo que é à soma dos dias, na maioria feitos de quase nada, que chamamos vida.
E passam tantos sem que um sopro de emoção nos envolva.

terça-feira, 6 de março de 2012

Aniversário

"No tempo em que festejavam o dia dos meus anos"...Aniversário, Álvaro de Campos 
Ainda festejam o dia dos meus anos, ainda estão presentes os que me querem bem.
Ainda me inundam de alegrias e ternura, ainda são meus os sorrisos.
Ainda tudo é serenidade e emoções de gratidão...
E, teme-se o tempo em que já não estarão por cá os que ainda hoje o celebram.
Teme-se um tempo de solidão, como se fosse possível colher o que se não planta.
E na memória ficam lembranças de dias, de emoções, de pessoas e palavras, soubesse eu escrever...
Mas talvez se prefira o esquecimento, importa esquecer, não lembrar, esvaziarmo-nos daquilo que nos enche de nada.
E assim se somam os dias, se juntam uns ao outros, tempo contado, bem o sabemos...
E vive-se à beira de deixar de esperar... ainda que, teime em nós a poesia.
Talvez, em dias como o de hoje, sob este sol de Inverno, e no espelho dos outros, esperar seja tão natural como olhar...
À espera da alegria do "não querer mais nada" e sorrir...