quarta-feira, 20 de abril de 2011

Nunca se esquece, tudo se lembra ocultamente.




É o fatídico mês de Março, estou
no piso superior a contemplar o vazio.
Kok Nam, o fotógrafo, baixa a Nikon
e olha-me, obliquamente, nos olhos:
Não voltas mais? Digo-lhe só que não.

Não voltarei, mas ficarei sempre,
algures em pequenos sinais ilegíveis,
a salvo de todas as futurologias indiscretas,
preservado apenas na exclusividade da memória
privada. Não quero lembrar-me de nada,
só me importa esquecer e esquecer
o impossível de esquecer. Nunca
se esquece, tudo se lembra ocultamente.

Desmantela-se a estátua do Almirante,
peça a peça, o quilómetro cem durando

orgulhoso no cimo da palmeira esquiva.
Desmembrado, o Almirante dorme no museu,
o sono do bronze na morte obscura das estátuas
inúteis. Desmantelado, eu sobreviverei
apenas no precário registo das palavras.


Aeroporto, Rui Knopfli, O Monhé das Cobras, 1997.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Simone

        
         Linda, deslumbrante e ... (algo que não sei dizer ),
        e assim nosso pequeno mundo, nossa pequena vida,
        se faz grande e outra, na brevidade eterna de um show...