sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Soubesse eu escrever...



Soubesse eu escrever, fosse-me fácil escrever, não me calasse o não saber, e talvez me fosse mais suave o silêncio. Esses tantos momentos em que se sente, em que se olha, em que se compreende.
Esses tantos momentos, em que, deixando de lado o buliço dos dias, se pensam outras coisas para lá da espuma dos dias e suas inquietações. Ou, pudesse eu, sabendo, escrever sobre risos e sorrisos, e sobre outras tantas coisas de que comunga quem escreve. 
Ainda que tivesse eu bem mais do que escrever para além da espera, do silêncio, do vazio, do quase nada... Abundassem, em mim, as palavras, e querendo soltar-se para se exporem, se tornassem quase perfeitas pelo meu escrever, soubesse eu escrever...

sábado, 24 de dezembro de 2011

Sobre a serenidade...


A estética dos barcos, da água, do azul, afinal da serenidade...
E a serenidade que está em nós, daí que a encontremos nos lugares por onde andamos, e por onde nos demoramos...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

domingo, 27 de novembro de 2011

Sol de Inverno...



Sol de Inverno, que nos é gratuito, que nos aquece o corpo, que nos aquece a alma, acaso deixássemos a alma a ele se expor...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

emoção...

Às vezes quer-se voltar a um tempo de emoção (...) precisa-se de poesia, de emoção...de qualquer coisa que encha o coração.
Bem se sabe do ridículo...


          Eu só sabia olhar... 

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Seguir o vento...


                    Hoje de manhã saí muito cedo,
                    Por ter acordado ainda mais cedo
                    E não ter nada que quisesse fazer...


                   Não sabia que caminho tomar
                   mas o vento soprava forte,
                   E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
                   Assim tem sido sempre a minha vida, e assim quero que possa ser sempre —
                   Vou onde o vento me leva e não me deixo pensar.


                              Alberto Caeiro, In Poesia ,

      Pudesse eu seguir o vento e não pensar....

              

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

When do the bells ring for me?


Edward Hopper (1882-1967)
Cape Cod Evening  1939

I wonder when do the bells ring for me
when someone tugs a heartstring for me?
when does it come my time?
when does the poem rhyme?
when do the songs they sing, sing for me?

to those who say "hey, wake up and feel life"
I say "i'm ready, just show me the way"
show me those arms that say "welcome to real life"
and we'll stay, we'll stay

how many parties more can i run to?
how many little loves can there be
before it's all a bore?
forget it, i want more
I want someone who wants want more of me
 like making promises good in the daylight
the thing is here am i, where is she?
when is it my chance?
when is it my dance
when do the bells ring for me?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Chove!


Chove!
Chove...

Mas isso que importa!,
 se estou aqui abrigado nesta porta
 a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

 Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
 até na lama.

José Gomes Ferreira... dito por Mário Viegas

terça-feira, 1 de novembro de 2011

hipertexto...


Este hipertexto (fragmentos de um longo texto dispersos por folhas, cadernos, e sei lá mais o quê),  feito para ser lido, como se fosse possível que tu algum dia o lesses...Não, não é possível.
Neste hipertexto, onde no passado a dor foi profunda, permanece o vazio e o quase nada, o resto fica imperceptível, soubesse eu escrever...
O resto está para além da lembrança dessa dor, está na espera, na esperança, e em noites de luar...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

o fundo do ser...

"(... ) o poeta quer ser um redentor, assumir sobre os seus ombros o mal da existência e redescobrir os verdadeiros nomes das coisas, apagados pela linguagem falsa da comunicação. Na rede inextricável de mediações que envolvem o indivíduo, o poeta é uma criatura anómala, que se recusa a fazer toca nas pregas da rede e se debate para a rasgar e atingir assim o fundo do ser, escondido pela rede. Muitas vezes, como no caso de Hölderlin ou Rimbaud, a aventura é mortal, pois para lá da rede não há nada, e o poeta precipita-se nesse nada."

Cláudio Magris, Danúbio

domingo, 23 de outubro de 2011

Sobre a espera...




Sobre a espera...
talvez seja a espera, que deriva ou é a própria esperança, que nos traz a serenidade nos dias que passam.
Estar à tua espera...
É por te ter perdido que espero.
É por teres ido embora que espero.
É sabendo que não voltas, que espero.
(Quem se foi não volta, espero outro alguém que não tu)
Estar à tua espera...

Estar à tua espera sem que saiba quem és.
Esperar que venhas, não sabendo quem és, crendo que se saberá, quando finalmente chegares.

E depois da tua chegada?
Depois da tua chegada, falar-te da demora, da espera, dos desertos e miragens (sim tudo foram miragens...).
Depois da tua chegada, nos teus braços, descansar desta espera quase infinita.
Depois da tua chegada, ouvir-te falar de onde vieste, por onde andaste.
Enquanto se espera, não se vive? vive-se sim. Há sorrisos e risos, há festas e ternuras...
E o desejo que se esquece...

[Esperar é ter esperança, essa " disposição do espírito que induz a esperar que uma coisa se há-de realizar ou suceder". Esperas infinitas...]

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Guarda-chuvas esquecidos...


"Ladislav Novomeský, o maior poeta eslovaco do século XX, fala, numa poesia sua, de um ano esquecido no café como um guarda-chuva velho. Mas as coisas reemergem, e os guarda-chuvas da nossa vida, deixados aqui e ali uma vez ou outra acabam por nos vir de novo ter às mãos"

Cláudio Magris, Danúbio

terça-feira, 4 de outubro de 2011

há tanta vida à nossa espera...


Por vezes parece que há tanta vida à nossa espera... parece dizer-nos isso os fim de tarde de Outono, deste Outono quente, quando a lua se faz presente, antes mesmo de se jantar.
Tanta vida à nossa espera, por que se vive tão pouco, quando se está à espera, na verdade deixámos que a vida nos passe ao lado.
Viesses tu, para que a vida deixasse de me passar ao lado...

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Uma vez amei, julguei que me amariam




Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão —
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído.

“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.

http://arquivopessoa.net/textos/986

sábado, 24 de setembro de 2011

Y no estavas tu...


Nostalgia de quem espera, de quem lembra outros tempos, estavas para chegar...

Esta tarde vi llover
Vi gente correr
Y no estabas tu.
(...)
El otoño vi llegar
Al mar oi cantar
Y no estabas tu.

 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sim, tudo é sonhar quanto sou e quero.


Sim, tudo é sonhar quanto sou e quero. (F.P.)
E a vida que vai passando-me ao lado...
Tristeza no coração, pequena é certo, porque maiores tristezas existem que não esta minha.


segunda-feira, 25 de julho de 2011

A flame.


Cedo demais... numa tarde de sábado, era Verão.
(1983 ~2011)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sangrando

Quer-se escrever palavras com beleza, as únicas que merecem ser ditas e escritas, mas com o coração sangrando, que beleza poderia ser dita?

"Ontem à noite, depois da sua partida definitiva, fui para aquela sala do rés-do-chão que dá para o parque, fui para ali onde fico sempre no mês de junho, esse mês que inaugura o Inverno. Tinha varrido a casa, tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral. Estava tudo depurado de vida, isento, vazio de sinais, e depois disse para comigo: vou começar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba. Tinha lavado as minhas coisas, quatro coisas, estava tudo limpo, o meu corpo, o meu cabelo, a minha roupa, e também aquilo que encerrava o todo, o corpo e a roupa, estes quartos, esta casa, este parque. E depois comecei a escrever..."

Marguerite Duras
Textos Secretos

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Nunca se esquece, tudo se lembra ocultamente.




É o fatídico mês de Março, estou
no piso superior a contemplar o vazio.
Kok Nam, o fotógrafo, baixa a Nikon
e olha-me, obliquamente, nos olhos:
Não voltas mais? Digo-lhe só que não.

Não voltarei, mas ficarei sempre,
algures em pequenos sinais ilegíveis,
a salvo de todas as futurologias indiscretas,
preservado apenas na exclusividade da memória
privada. Não quero lembrar-me de nada,
só me importa esquecer e esquecer
o impossível de esquecer. Nunca
se esquece, tudo se lembra ocultamente.

Desmantela-se a estátua do Almirante,
peça a peça, o quilómetro cem durando

orgulhoso no cimo da palmeira esquiva.
Desmembrado, o Almirante dorme no museu,
o sono do bronze na morte obscura das estátuas
inúteis. Desmantelado, eu sobreviverei
apenas no precário registo das palavras.


Aeroporto, Rui Knopfli, O Monhé das Cobras, 1997.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Simone

        
         Linda, deslumbrante e ... (algo que não sei dizer ),
        e assim nosso pequeno mundo, nossa pequena vida,
        se faz grande e outra, na brevidade eterna de um show...


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

todas as coisas eram possíveis.

Adeus
 Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade